Prisioneiro

Eu já perdi a conta de quantas vezes rasguei papéis em que tentava escrever esta carta, mas não há outra forma de dizer isso… Tu estás aí e eu estou do outro lado do mundo, completamente impossibilitada de te visitar ou ajudar-te de alguma forma. Não tenho como pedir desculpas por não poder fazer absolutamente nada por ti neste momento, eu poderia me explicar e dizer-lhe o que se passa na minha vida agora, mas não quero gastar espaço no papel com isto.

Não sei como isso funciona, eu não sei se tu podes responder ou se poderei enviar mais alguma mensagem.

Eu estou a escrever esta carta e me pergunto pelo destino final dela, irá chegar até ti ou ficará perdida em algum lugar até ser esquecida?

Eu disse-te tantas vezes para seguires a tua vida, mas não era assim que eu imaginava. Aliás, quem há anos atrás iria conseguir imaginar o rumo que as nossas vidas tomaram? Alguns dos meus amigos me diziam para deixar de me encontrar contigo, porque eu iria me arrepender. Outros diziam que eu ia acabar mãe solteira se continuasse contigo. Eu gostava mais de acreditar na teoria de um deles, que dizia que imaginava tu e eu, juntos no futuro a reinar um grande império que, infelizmente, acho que não posso descrever aqui… provavelmente esta carta será aberta antes de chegar a ti.
Realmente, muitas vezes me pego a pensar em universos paralelos, várias versões da nossa história, o que teria mudado se tivéssemos feito pequenas escolhas diferentes. Mas é tortura pensar nisso tudo agora.

Finalmente conheci a tua mãe. Infelizmente, não pelos melhores motivos como poderia ter sido há algum tempo atrás. Ela parece bastante simpática e de certeza que se preocupa muito contigo… Assim como eu, que te imploro para que não faças nenhuma besteira a ti mesmo. Eu sei que agora deve ser difícil ter esperanças. Eu tenho um tio advogado, que já não exerce, mas eu poderia falar com ele para ver as opções que tens. Eu não tenho detalhes sobre o que estás a responder, mas vou fazer o possível e impossível para te ajudar.

Eu não paro de pensar em ti há dias, mesmo antes da tua mãe ter me procurado. Há mais ou menos dois meses, eu estava a trabalhar, quando alguém muito semelhante a ti apareceu. Tão semelhante que eu simplesmente fiquei pálida, meu corpo todo tremeu, tinha os olhos a não acreditar no que viam e a boca semiaberta. Meu coração disparou, eu deixei de pensar, tudo a volta sumiu e o que eu segurava caiu no chão, foi o que me fez acordar. Eu olhei para as mãos dele a procura das tuas tatuagens, mas não estavam lá. Por um tempo voltei a mim mesma, mas quando ele começou a falar, tinha a voz muito parecida com a tua e o sotaque brasileiro, eu fiquei paralisada até ele sair do local. Foi uma extrema coincidência. Desde de então já não sais da minha cabeça por nada. Parece até a velha Mika, que não parava de pensar em ti, nos nossos encontros e quando eu poderia vê-lo novamente.

Eu acho que já falei demasiado, eu espero que estejas a passar por isso da melhor forma possível, eu sei que tu és forte e essa maré logo irá abaixar.

Não deixe de pensar em tudo o que vivemos e as coisas boas que carregamos um do outro. Não imaginas o quanto estou a sofrer por ti agora, eu nunca devia ter te abandonado, nunca devia ter fugido. Estou arrependida de não ter ficado contigo para todo o sempre.

Eu sempre estarei aqui contigo e para ti.

Com amor,

Mika



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